terça-feira, 29 de julho de 2008

À Velha Fábrica I







Pedras no Sapato

Roteiro

Priscila Oliveira da Conceição, Tatiane Pedro do Nascimento e Alex Huche
Professor Orientador
Alex Huche



ATO-I ( A historia de Daiana )

Daiana chega em casa aflita, se questionando, se deve ou não contar sobre sua gravidez para o namorado, Sérgio.
Daiana conversa com Sérgio por telefone.


Sérgio – Alô!
Daiana – Alô, Sérgio?
Sérgio – Eu... Quem é?
Daiana – Como quem é?... sou eu, Daiana.
Sérgio – Fala, o que é que você quer?
Daiana – Preciso conversar com você, pode vir aqui?
Sérgio – Cara, agora não dá, fala aí.
Daiana – Tem que ser pessoalmente.
Sérgio – Ah, não dá, tô muito ocupado... Fala!
Daiana – Então... já que é assim... Eu estou grávida.
Sérgio – De quem?
Daiana – Como de quem?... De você, de quem mais seria?
Sérgio – Sei lá!... Tem certeza de que é meu?
Daiana – Claro que tenho, você foi o único.
Sérgio – Aí, quer saber?... Dá teu jeito.
Daiana – Como?
Sérgio – Preciso ir, tchau.
Daiana – Mas...



Sérgio desliga o telefone.
O Pai de Daiana escutou a filha contar para o namorado que está grávida e fica muito bravo.


Pai – Você está o quê? (muito irritado)
Daiana – Pai, você está aí?... eu... eu...
Pai Você está grávida?
Daiana – É... eu ia te contar... (chorando)
Pai – Quem foi o safado?... Ou você não sabe quem é o pai?
Daiana – É do Sérgio!
Pai – Logo o Sérgio, aquele vagabundo, que não quer nada com a vida.
Daiana – Pai...
Pai – Pai?... Você tem a coragem de me chamar de pai, você não é mais minha filha, vai embora daqui... saia daqui sua vagabunda.


Coro: Artigo 22 do ECA diz: “Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores de idade”.


ATO-II ( A historia de Clarisse )

Clarisse chega em casa tarde e é maltratada pela tia, com quem mora.

Tia (varrendo a casa)– Isso é hora de você chegar em casa? Nem mesmo uma... como você pode chegar a essa hora. Onde você estava?
Clarisse – Ah, não enche, me esquece...
Tia – Você não faz nada em casa, você é uma vadia igual a sua mãe...
Clarisse – Não sou nada e minha mãe não era vadia.
Tia – Você tem que arrumar a casa, tá tudo sujo...
Clarisse – Tá, tá...
Tia – Sai daqui sua inútil... fica aí fora, agora, também, não quero ver tua cara.
Clarisse – não agüento mais essa casa. (volta para a rua)

Clarisse encontra Jéssica e está muito triste e revoltada com o que houve da tia.

Jéssica – Oi Clarisse!... o que houve?
Clarisse – Oi Jéssica! Não agüento mais essa casa, minha vida tá um saco, todo dia é a mesma coisa.
Jéssica – Por que você não vai morar com outros parentes?
Clarisse – Não tenho mais ninguém.
Jéssica – Cara quando eu estou mal assim eu tomo uns remédios, que me acalmam, você quer?
Clarisse – Mas são os seus remédios.
Jéssica – Eu tenho mais, foi o médico que me receitou.
Clarisse – Valeu. (pega os remédios)
Jéssica – Preciso ir, não fica assim não, as coisas vão melhorar, tchau!
Clarisse – tchau!

A tia estranha a postura de Clarisse, desconfiada, encontra as drogas e a pressiona.


Tia – Essa menina anda meio esquisita ultimamente, vou dar uma olhada nas coisas dela. (Vasculha as coisas de Clarisse e encontra as drogas)
Tia – Clarisse, você é uma drogada, eu sabia que não devia ter ficado com você.
Clarisse- Eu não sou drogada!
Tia – Você é sim, o que são esses comprimidos?
Clarisse – São remédios, só isso.
Tia – E remédio é o que, sua drogada?
Clarisse – Eu não sou drogada. Eu vou embora dessa casa...
Tia – Vai mesmo!

Coro: O artigo 18 do ECA diz: “É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.”

ATO-III ( A história de Rodrigo )


Rodrigo encontra Diogo e conta das suas dificuldades para o amigo, fala de sua avó, que está doente e que vai ter que mudar para a escola noturna.

Diogo – E aí, Rodrigo!
Rodrigo – Fala Diogo!
Diogo – Me dá uma força em Matemática, não entendi nada?
Rodrigo – Claro, senta aí... Cara estou bolado.
Diogo – O que foi?
Rodrigo – Minha avó tá doente, eu vou ter que sair da escola pra trabalhar... vou estudar a noite.
Diogo – Tá brincando... quando vai ser?
Rodrigo – Hoje é meu último dia... Bom...(Rodrigo explica a Diogo)
Diogo – Cara aparece lá em casa, pra batermos uma bola... Vou nessa, tchau.
Rodrigo – Eu vou contigo, vamos dar um pulo no Shopping?
Diogo - Já é!


Rodrigo chega na escola noturna, uma bagunça, alunos desinteressados e marginalizados. Rodrigo encontra um vizinho e tem problemas com uma gangue.


Vizinho – Cara, conheço você... você não é o...
Rodrigo – Rodrigo...(cumprimenta) ...moro perto da tua casa.
Vizinho – Isso mesmo, o que houve, cara?... Por que passou para a noite?
Rodrigo – Estou trabalhando, vendendo doces na rua, minha avó tá internada, tô bolado.
Cacá (se aproxima com a sua gangue) – Aí maluco, tu mora onde?
Rodrigo – Por que, algum problema?
Cacá – Aqui não tem lugar para otário?
Rodrigo – Ué, e o que vocês fazem aqui?... Abriram exceção?
Cacá – Aí, te cuida cara!(sai com a gangue)
Vizinho – Pô cara, tu é doido? Foi arrumar problema logo com o Cacá...
Rodrigo – A escola não toma uma atitude com eles, por quê?
Vizinho – Não querem ser ameaçados... aí cara, toma aí, você vai precisar. (entrega um estilete para Rodrigo) (saem da cena).

Dois alunos conversando narram a briga que acontecera na noite anterior


Aluno 1 – Cara, tu viu a porrada ontem?
Aluno 2 – Putz, o moleque novo, o Rodrigo, furou o Cacá com uma faca.
Aluno 1 – É, sinistro, agora ele não vai poder vir para a escola, tá ferrado.
Aluno 2 – E parece que a avó dele morreu.

Coro: O Artigo 98 do ECA diz que devem ser tomadas medidas de proteção a criança e ao adolescente sempre que os direitos reconhecidos no ECA forem ameaçados ou violados:

- Por ação ou omissão da sociedade ou do Estado,
- Por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsáveis, ou
- Em razão de sua conduta.

ATO-IV ( O encontro dos meninos )


Clarisse andando pelas ruas, dopada, esbarra em Rodrigo e ele a segura, evitando que ela caia.


Rodrigo – Está tudo bem?
Clarisse – Você está cego, não me viu?
Rodrigo – Calma colega, eu só fui te ajudar.
Clarisse – Mas eu não preciso de ajuda. (sai andando e cai novamente)
Rodrigo – Tem certeza de que não precisa de ajuda? Onde você mora?
Clarisse – Eu não tenho casa, não tenho família, não tenho ninguém, não sei nem porque estou falando com você.
Rodrigo – Sei como é isso, também não tenho ninguém, desde que minha avó morreu... você tem amigos?
Clarisse – Eu só tenho um amigo que está comigo em todos os lugares. Ele me acalma, me tranqüiliza, é o meu tíner.
Rodrigo – Você se droga para esquecer das coisas?
Clarisse – Eu não sou drogada.
Rodrigo – Sei...


Daiana foge de um Homem que tenta seduzí-la e Rodrigo e Clarisse a ajudam


Daiana – Sai, eu não faço isso...
Homem – Você quer comer, não quer?
Daiana – Eu não preciso disso pra comer.
Homem – Venha cá...
Daiana – Me larga!
Rodrigo – Larga ela!... (Rodrigo puxa o estilete e Daiana corre para junto de Clarisse)

Daiana, Clarisse e Rodrigo passam a viver juntos, pedindo esmolas.

O tempo passa e a barriga de Daiana já está com 7 meses e um dia, um Homem chega e os encaminha para o Conselho Tutelar.


Roberto – Oi meninos, meu nome é Roberto, vocês estão com fome?(Dá a comida aos meninos) ...Eu faço parte de uma organização que atua junto ao Conselho Tutelar e ajuda a pessoas como vocês. Deixem-me ajudá-los? O que vocês fazem aqui?
Rodrigo – Sobrevivemos.
Clarisse – Esquecemos
Daiana – Choramos, choramos o frio da noite, choramos as mágoas, choramos a perda dos sonhos.
Roberto – Isso não é vida para vocês, isso não é vida para ninguém... Existe alguém pode ajudá-los... venham comigo.
Rodrigo – Nada pode ser pior que isso aqui, tudo bem.
Daiana – Eu tenho que pensar no meu filho, eu vou.
Clarisse – Não! ( foge com um outro menino de rua )

ATO-V ( A ajuda )


A Conselheira Tutelar chega em seu escritório.


Secretário – Oi Dona Maria Lúcia, um bom dia! Hoje nós temos dois casos: sobre os meninos de quem eu lhe falei ontem.
Conselheira Tutelar – Pode pedir para entrar a menina e seu pai por favor.

É chamada a responsabilidade de Sérgio e do Pai de Daiana.


Conselheira Tutelar – Boa Tarde! Eu sou a conselheira tutelar e os chamei aqui, porque os direitos desta menina não foram cumpridos.
O senhor pode não saber, mas enquanto ela for menor de idade, é responsabilidade sua o sustento e a educação de sua filha, pois gravidez não emancipa ninguém...
Pai (Falando com Daiana) – Onde você andou?... eu sei que errei, te procurei, mas... volta para casa.
Daiana – Pai... (abraça o pai)
Conselheira Tutelar – E o pai da Criança?
Daiana – Ele não quer saber.
Conselheira Tutelar – Teremos que chamá-lo e os seus pais, para que juntos possam assumir a responsabilidade com essa criança que esta para nascer.
Conselheira Tutelar – Vou encaminhá-los para um tratamento psicológico e o senhor para a Escola de Pais. (saem Daiana e Pai)

Entram Rodrigo e uma tia que morava distante


Conselheira Tutelar – Boa Tarde! Eu sou a conselheira tutelar e a chamei aqui, pois a Sra. é a parente mais próxima de Rodrigo e gostaria de saber se ele não poderia morar com a Sra., já que ele não tem mais ninguém.
Tia – Pode sim, mas ele terá que voltar a estudar.
Conselheira Tutelar – Nós a ajudaremos a arranjar uma escola perto da sua casa... ele é um bom menino, sei que vocês se darão muito bem.
Rodrigo – Muito obrigado tia, muito obrigado Sra. A rua não é lar para ninguém...
Conselheira Tutelar – preciso que a Sra. Preencha esses papeis.

A tia preenche os papéis.


Coro – Depende de Nós!


ATO-VI ( O FIM )


Meses depois na casa da tia de Clarisse, a tia de Clarisse briga novamente com ela e sai nervosa.


Tia – Não quero ver a sua cara quando eu voltar, ouviu bem!...eu devo ser uma idiota por aceitar você de volta.(sai batendo a porta)
Clarisse – Me deixa! ( toma todos os remédios do frasco )

Rodrigo encontra Daiana com o bebê na rua.

Rodrigo – Daiana, quanto tempo!... meu sobrinho!
Daiana – Vou levá-lo ao médico, para fazer uns exames.
Rodrigo – Como estão as coisas?
Daiana – Agora está tudo bem, Sérgio está ajudando muito com o Pedrinho, e você, como está indo com a sua tia?
Rodrigo – Legal, estou estudando muito, vou fazer prova para escola técnica.
Daiana – Que bom. Tem visto Clarisse?
Rodrigo – Vou lá agora, fiquei sabendo que ela voltou a morar com a tia. Vamos lá?.
Daiana – Que pena não vou poder ir com você... Tchau, dê um beijo nela por mim.
Rodrigo – Tchau!

Rodrigo bate na porta, chama Clarisse várias vezes e a vê, pela janela, caída morta no chão e se volta para a platéia.


Rodrigo – Por que olhas assim, como quem não entende?
Dizem que há um propósito para tudo na vida, será?
Qual seria o da vida de Clarisse?
Se até o seu nome parece ironia... a iluminada... com uma vida tão escura.
Quantas vezes, ao chegar perto de ti,
nem a deixas-te falar e com um simples gesto, a dispensou?
Talvez o propósito de sua existência seja alertar-nos,
de que, por acaso, o que ocorreu com Clarisse,
poderia ter sido com qualquer um.
É preciso ensinar a sonhar,
senão, de concreto, só teremos o chão,
piso de uns, cama de outros.
Às vezes entre o começo e o fim há um hiato de angústia, humilhação, frio, fome,
o qual Clarisse conhece por vida,

e o alívio mais imediato é a ilusão de entorpecer a mente,

anestesiar a alma, fazendo as cortinas da peça de sua vida se fecharem mais rápido
e quando o ato, por fim, tiver acabado, não terá ninguém para aplaudí-la.

Coro: “Por trás toda sombra ou vulto, existe a imagem real de um ser humano.”
Sandra Mara Herzer


FIM


Peça criada e encenada na Escola Municipal Marechal Mascarenhas de Moraes com a turma 705 no ano de 2002.

Uma homenagem aos maravilhosos loucos dessa Escola no Caju.

Um comentário:

kore(H) disse...

maravilhOsa essa peça..

[vivo com saudades das peças do NAM.O q me acalma é saber q elas continuam. ]

sdd³