
Bully
Roteiro de Alex Huche
Núcleo de Adolescentes Multiplicadores (2004)
E.M. Mal. Mascarenhas de Morais
Ato I ( Pátio da Escola )
Léo está no Pátio da escola e se aproximam: Bruna, Carol, Débora, Igor e Júnior.
Léo – E aí galera!
Grupo – Fala Léo!
Léo – Estava só esperando vocês chegarem!
Júnior – Qual foi?
Léo – Sabe aquele trabalho idiota da turma da Tarde?
Carol – O que você fez desta vez?
Léo – Qual é Carol, vai cortar a onda?
Igor – O que você fez, mané?
Léo (Mostrando, orgulhoso, parte do trabalho rasgado) – Isso aqui é só uma parte, tem que ver como ficou o resto.
Débora (rindo) – Tu é muito doido!
Carol (revoltada) – Você acha isso certo, por acaso, você sabe quanto tempo eles gastaram em pesquisas pra fazer esse trabalho...
Léo – Tá, tá ... Parece a minha mãe... e aí Igor, você continua querendo ser Astrólogo?
Igor – Não seu imbecil, é Astrônomo.
Léo – Tanto faz, você não vai conseguir ser nada mesmo... tu é pobre, favelado, idiota e ainda por cima é burro!
Bruna – Qual é, Léo, deixa o menino sonhar?
Carol (Enquanto Léo a olha com desprezo) – Bruna, ele fala isso porque ele não quer ser nada na vida.
Júnior – Olha aí o lerdo do Davi.
O grupo, exceto Carol, caçoa de Davi enquanto ele passa de cabeça baixa e senta num canto do pátio, como sempre acontece.
Débora – Olha a roupa dele.
Carol (Defendendo o Davi) – Deixa o garoto, todo dia é isso, vocês não têm mais o que fazer? ( sai de cena )
Léo (enquanto Davi se senta) – Por isso que eu não gosto desse lerdão, mariquinha, um dia eu meto a porrada nele!
Ato II ( Pátio da Escola )
Léo, Igor, Júnior, Débora e Bruna estão reunidos no pátio e Marina passa por eles e cumprimenta a Débora, com ar amigável, senta-se no canto do pátio e ouve os comentários dos meninos.
Léo – Quem é?
Débora – O nome dela é Marina, é mais uma “Paraíba” na escola.
Júnior – Como é que você sabe?
Bruna – Quando a menina chegou, a Débora foi se apresentar pra ela... tadinha.
Léo – Mais uma pra gente zoar.
Júnior – Essa vai chorar!
Davi passa pelo grupo.
Léo – Vai lesado!
Igor – É um ridículo.
Bruna – Deve ter puxado a mãe.
Débora – É, ela deve ser retardada também.
Júnior – Se não for pior.
Davi fica irado e senta perto da Marina.
Marina – Quem são esses abestalhados?
Davi (revoltado) – Eles não gostam de ninguém, sacaneiam todo mundo.
Marina – Meu nome é Marina.
Davi – Meu nome é Davi, você é de onde?
Marina – Eu sou da Paraíba.
Davi – Hum, eles odeiam Nordestinos.
Marina – Por quê?
Davi – Sei lá...
O grupo implica com os dois, dizendo que os dois estavam namorando.
Léo – Olha o mariquinha namorando a “Paraíba”.
Débora – Parecem dois mijões.
Grupo ( ri )
Carol vê a cena e se aproxima dos dois.
Carol – Não liga pra eles não, são assim mesmo. ( Chama a Bruna para ir embora e as duas saem )
Marina – Quem é ela?
Davi – É a Carol, é a única legal desse grupo.
Marina – Por que ela anda com eles?
Davi – Quem sabe... só sei que ela é muito amiga dessa Bruna.
Ato III ( Pátio da Escola )
Léo, Igor e Júnior se encontram.
Júnior – Qual foi, tá feliz?
Léo (orgulhoso) – Não falei que ia pegar aquele moleque, peguei o Davi no banheiro... bati muito, mané... e o otário ficou no sapatinho... Vou nessa! (sai)
Igor – Pô cara, o Léo tá pegando pesado.
Júnior – É, bater no moleque já é demais.
Igor – Já estou bolado com o Léo, ficou me zoando, só porque eu quero estudar, agora faz isso.
Júnior – Eu acho que você está certo, tem mais é que estudar mesmo... Quanto ao Léo, vai acabar seguindo os passos do pai, enchendo a cara de cachaça e querendo bater na mulher nos filhos, em todo mundo que ele encontrar pela frente.
Igor – Eu tenho notado que você anda meio estranho.
Júnior – Eu, por quê?
Igor – Sei lá, só sei que tá estranho.
Júnior – Vou te contar uma parada, mas...
Igor – Hum, o que foi?
Júnior – Cara, tô amarradão na Bruna, acho ela uma gracinha.
Igor – Ué, vocês se conhecem há um tempão e agora que você percebeu isso?
Júnior – É, foi de uma hora pra outra.
Igor – Você já falou com ela?
Júnior – Tá doido.
Igor – Dá um papo nela, quem sabe? É só chamar pro desenrolo.
Júnior – Sei não... (saem)
Marina passa por Débora e Bruna e discutem.
Débora (esbarra em Marina) – Tá cega?
Marina – Você me empurra e pergunta se eu tô cega?... O que eu te fiz pra você implicar comigo todo dia?
Bruna – Vai deixar Débora, ah não.
Débora – Além de “Paraíba” é cheia de marra, deixa ela comigo.
Marina – Você se sente melhor que eu só porque é carioca, menina metida a besta... Sua quenga!
Marina sai e Débora vai furiosa atrás de Marina, enquanto que Bruna vai encontrar a Carol.
Bruna – Carol, a chapa vai esquentar.
Carol – O que foi?
Bruna – A Débora tá bolada com a “Paraíba”.
Carol – Bruna, por que você continua andando com esses meninos, eles só querem humilhar os outros.
Bruna – Eu sei, mas às vezes eu acabo participando disso também.
Carol – Um dia isso vai acabar mal.
Léo chega rindo e encontra as duas no pátio.
Léo – A Débora tá lá na direção.
Bruna – Por quê?
Léo – Tava brigando com aquela “Paraíba”... Não sabe fazer as coisas. (sai)
Bruna – Vamos lá ver o que houve?
Carol – Não, vamos embora. (saem)
Ato IV ( Pátio da escola )
Igor, Júnior e Léo estão reunidos e Bruna está se aproximando.
Léo – Ali, Júnior, tua namoradinha.
Júnior (falando com Igor) – Pô cara, qual é? Tu é linguarudo hein.
Igor – Pô, mas eu não falei nada.
Léo – Ah é verdade né...Vocês estão de segredinho...
Igor – Não tem nada a ver.
Léo – E aí Igor, já descobriu como tua mãe vai pagar a faculdade para você estudar, vai rodar bolsinha na Central?
Igor – Não é porque tua mãe é assim que a minha vai ser também.
Léo – Ô, meu irmão, qual é?... Vai se ...( Júnior impede que os dois briguem)
Júnior – Qual é a de vocês, tão malucos? ( A Bruna chega e o Igor sai )
Bruna – A Carol tem razão, tu é um idiota mesmo. ( Sai atrás do Igor )
Léo – Aí Júnior, ela tá muito preocupada com o Igor, depois ele diz que é teu amigo.
Júnior – Qual é cara, nada a ver, ele é maneiro.
Léo – Como é que você acha que eu descobri que você gosta da Bruna?
Júnior – Ô, me deixa, tu só manda papo torto. ( Sai e Léo sai rindo atrás )
Marina chega e encontra o Davi.
Marina – Oi Davi!
Davi – Oi, eu soube que você brigou com a Débora e foram parar na Direção. Você contou, pra Diretora, o que eles fazem com a gente, aqui na escola?
Marina – Não, achei melhor deixar pra lá...(Marina percebe que Davi ficou furioso) ...Você está diferente, hoje, aconteceu alguma coisa?
Davi – Não, ainda não, mas vai acontecer.
Marina – O quê?
Davi (Mostrando a faca) – Hoje, o Léo vai se ver comigo.
Marina – Oxente , menino tá perdendo o juízo?... As coisas não são assim, não é porque eles curtem com a minha cara que vou fazer uma pôrra dessa.
Davi – Você é legal, mas, cada um sabe de si e de hoje não passa. ( Davi sai e Marina fica preocupada )
Ato V ( Em frente a sala da Diretora )
Marina chega na escola e é avisada para se apresentar na sala da Diretora.
Cláudio – Marina!
Marina – Oi!
Cláudio – A Diretora quer falar com você urgente.
Marina – Tá bom!
Marina encontra a Carol saindo da sala da Direção.
Marina – O que está havendo, na escola?
Carol – Você ainda não sabe?
Marina – Não, O que houve?
Carol – O Davi esperou o Léo sair da escola, ontem e começou a xingá-lo e quando Léo foi pra cima dele, Davi enfiou uma faca na barriga do Léo.
Marina – Como... Como isso pôde acontecer? Eu dei graças à Deus por termos saído mais cedo ontem, pois o Davi estava querendo se vingar do Léo e eu esperava que ele desistisse... Como eles estão?
Carol – Logo depois de ter esfaqueado o Léo, o Davi, ficou sentado ali assustado, como se não acreditasse no que tinha feito e a polícia o levou para a Delegacia. E o Léo está internado no hospital.
Marina – Ontem, o Davi me mostrou uma faca e disse que o Léo ia se ver com ele, mas eu não acreditei que ele fosse capaz de fazer uma coisa dessas.
Carol – A Diretora quer conversar com você... Eu contei tudo que acontecia aqui, a implicância dos meninos com você e com o Davi e todos nós fomos encaminhados ao Conselho Tutelar.
Marina – Você também? Você não tem andado com eles.
Carol – Marina, eu testemunhei tudo e não procurei ninguém para me ajudar a impedir o que acontecia... Me perdoa, eu sinto muito.
Marina – Eu sei.
Marina vai para a sala da Direção com a cabeça baixa, muito triste. ( Sai )
Carol fala para o Público.
Carol - Eu sei que essas coisas não deveriam acontecer,
mas acontecem a todo instante,
alguns as chamam de Bully,
é quando jovens “mais fortes” maltratam os mais fracos,
pelos mais diversos motivos, levando-os a cometer agressões contra todos,
e às vezes, até contra si mesmo...
Não sei se as frustrações da vida,
a intolerância contra as pessoas diferentes
e a falta de amor ao próximo são as causas desses atos...
...Vai saber...
Os jovens precisam de bons exemplos, compreensão
e carinho dos adultos que lidam com eles,
principalmente de seus pais.
Talvez só assim possamos evitar que este tipo de coisa aconteça
e fazer com que o Mundo seja muito melhor.
FIM
Peça encenada em 2005 pelo Núcleo de Adolescentes e posteriormente transformada em fotonovela.
Um comentário:
Saudades mOr!!
*aprendi muitO com essa peça..*
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