quarta-feira, 30 de julho de 2008

À Velha Fábrica II



Bully



Roteiro de Alex Huche



Núcleo de Adolescentes Multiplicadores (2004)

E.M. Mal. Mascarenhas de Morais



Ato I ( Pátio da Escola )



Léo está no Pátio da escola e se aproximam: Bruna, Carol, Débora, Igor e Júnior.



Léo – E aí galera!

Grupo – Fala Léo!

Léo – Estava só esperando vocês chegarem!

Júnior – Qual foi?

Léo – Sabe aquele trabalho idiota da turma da Tarde?

Carol – O que você fez desta vez?

Léo – Qual é Carol, vai cortar a onda?

Igor – O que você fez, mané?

Léo (Mostrando, orgulhoso, parte do trabalho rasgado) – Isso aqui é só uma parte, tem que ver como ficou o resto.



Débora (rindo) – Tu é muito doido!

Carol (revoltada) – Você acha isso certo, por acaso, você sabe quanto tempo eles gastaram em pesquisas pra fazer esse trabalho...

Léo – Tá, tá ... Parece a minha mãe... e aí Igor, você continua querendo ser Astrólogo?

Igor – Não seu imbecil, é Astrônomo.

Léo – Tanto faz, você não vai conseguir ser nada mesmo... tu é pobre, favelado, idiota e ainda por cima é burro!

Bruna – Qual é, Léo, deixa o menino sonhar?

Carol (Enquanto Léo a olha com desprezo) – Bruna, ele fala isso porque ele não quer ser nada na vida.

Júnior – Olha aí o lerdo do Davi.




O grupo, exceto Carol, caçoa de Davi enquanto ele passa de cabeça baixa e senta num canto do pátio, como sempre acontece.



Débora – Olha a roupa dele.

Carol (Defendendo o Davi) – Deixa o garoto, todo dia é isso, vocês não têm mais o que fazer? ( sai de cena )

Léo (enquanto Davi se senta) – Por isso que eu não gosto desse lerdão, mariquinha, um dia eu meto a porrada nele!



Ato II ( Pátio da Escola )




Léo, Igor, Júnior, Débora e Bruna estão reunidos no pátio e Marina passa por eles e cumprimenta a Débora, com ar amigável, senta-se no canto do pátio e ouve os comentários dos meninos.



Léo – Quem é?

Débora – O nome dela é Marina, é mais uma “Paraíba” na escola.

Júnior – Como é que você sabe?

Bruna – Quando a menina chegou, a Débora foi se apresentar pra ela... tadinha.

Léo – Mais uma pra gente zoar.

Júnior – Essa vai chorar!



Davi passa pelo grupo.



Léo – Vai lesado!

Igor – É um ridículo.

Bruna – Deve ter puxado a mãe.

Débora – É, ela deve ser retardada também.

Júnior – Se não for pior.



Davi fica irado e senta perto da Marina.



Marina – Quem são esses abestalhados?

Davi (revoltado) – Eles não gostam de ninguém, sacaneiam todo mundo.

Marina – Meu nome é Marina.

Davi – Meu nome é Davi, você é de onde?

Marina – Eu sou da Paraíba.

Davi – Hum, eles odeiam Nordestinos.

Marina – Por quê?

Davi – Sei lá...

O grupo implica com os dois, dizendo que os dois estavam namorando.

Léo – Olha o mariquinha namorando a “Paraíba”.

Débora – Parecem dois mijões.

Grupo ( ri )



Carol vê a cena e se aproxima dos dois.



Carol – Não liga pra eles não, são assim mesmo. ( Chama a Bruna para ir embora e as duas saem )

Marina – Quem é ela?

Davi – É a Carol, é a única legal desse grupo.

Marina – Por que ela anda com eles?

Davi – Quem sabe... só sei que ela é muito amiga dessa Bruna.



Ato III ( Pátio da Escola )



Léo, Igor e Júnior se encontram.

Júnior – Qual foi, tá feliz?

Léo (orgulhoso) – Não falei que ia pegar aquele moleque, peguei o Davi no banheiro... bati muito, mané... e o otário ficou no sapatinho... Vou nessa! (sai)

Igor – Pô cara, o Léo tá pegando pesado.

Júnior – É, bater no moleque já é demais.

Igor – Já estou bolado com o Léo, ficou me zoando, só porque eu quero estudar, agora faz isso.

Júnior – Eu acho que você está certo, tem mais é que estudar mesmo... Quanto ao Léo, vai acabar seguindo os passos do pai, enchendo a cara de cachaça e querendo bater na mulher nos filhos, em todo mundo que ele encontrar pela frente.

Igor – Eu tenho notado que você anda meio estranho.

Júnior – Eu, por quê?

Igor – Sei lá, só sei que tá estranho.

Júnior – Vou te contar uma parada, mas...

Igor – Hum, o que foi?

Júnior – Cara, tô amarradão na Bruna, acho ela uma gracinha.

Igor – Ué, vocês se conhecem há um tempão e agora que você percebeu isso?

Júnior – É, foi de uma hora pra outra.

Igor – Você já falou com ela?

Júnior – Tá doido.

Igor – Dá um papo nela, quem sabe? É só chamar pro desenrolo.

Júnior – Sei não... (saem)



Marina passa por Débora e Bruna e discutem.



Débora (esbarra em Marina) – Tá cega?

Marina – Você me empurra e pergunta se eu tô cega?... O que eu te fiz pra você implicar comigo todo dia?

Bruna – Vai deixar Débora, ah não.

Débora – Além de “Paraíba” é cheia de marra, deixa ela comigo.

Marina – Você se sente melhor que eu só porque é carioca, menina metida a besta... Sua quenga!



Marina sai e Débora vai furiosa atrás de Marina, enquanto que Bruna vai encontrar a Carol.



Bruna – Carol, a chapa vai esquentar.

Carol – O que foi?

Bruna – A Débora tá bolada com a “Paraíba”.

Carol – Bruna, por que você continua andando com esses meninos, eles só querem humilhar os outros.

Bruna – Eu sei, mas às vezes eu acabo participando disso também.

Carol – Um dia isso vai acabar mal.



Léo chega rindo e encontra as duas no pátio.



Léo – A Débora tá lá na direção.

Bruna – Por quê?

Léo – Tava brigando com aquela “Paraíba”... Não sabe fazer as coisas. (sai)

Bruna – Vamos lá ver o que houve?

Carol – Não, vamos embora. (saem)



Ato IV ( Pátio da escola )



Igor, Júnior e Léo estão reunidos e Bruna está se aproximando.



Léo – Ali, Júnior, tua namoradinha.

Júnior (falando com Igor) – Pô cara, qual é? Tu é linguarudo hein.

Igor – Pô, mas eu não falei nada.

Léo – Ah é verdade né...Vocês estão de segredinho...

Igor – Não tem nada a ver.

Léo – E aí Igor, já descobriu como tua mãe vai pagar a faculdade para você estudar, vai rodar bolsinha na Central?

Igor – Não é porque tua mãe é assim que a minha vai ser também.

Léo – Ô, meu irmão, qual é?... Vai se ...( Júnior impede que os dois briguem)

Júnior – Qual é a de vocês, tão malucos? ( A Bruna chega e o Igor sai )

Bruna – A Carol tem razão, tu é um idiota mesmo. ( Sai atrás do Igor )

Léo – Aí Júnior, ela tá muito preocupada com o Igor, depois ele diz que é teu amigo.

Júnior – Qual é cara, nada a ver, ele é maneiro.

Léo – Como é que você acha que eu descobri que você gosta da Bruna?

Júnior – Ô, me deixa, tu só manda papo torto. ( Sai e Léo sai rindo atrás )



Marina chega e encontra o Davi.



Marina – Oi Davi!

Davi – Oi, eu soube que você brigou com a Débora e foram parar na Direção. Você contou, pra Diretora, o que eles fazem com a gente, aqui na escola?

Marina – Não, achei melhor deixar pra lá...(Marina percebe que Davi ficou furioso) ...Você está diferente, hoje, aconteceu alguma coisa?

Davi – Não, ainda não, mas vai acontecer.

Marina – O quê?

Davi (Mostrando a faca) – Hoje, o Léo vai se ver comigo.

Marina – Oxente , menino tá perdendo o juízo?... As coisas não são assim, não é porque eles curtem com a minha cara que vou fazer uma pôrra dessa.

Davi – Você é legal, mas, cada um sabe de si e de hoje não passa. ( Davi sai e Marina fica preocupada )



Ato V ( Em frente a sala da Diretora )



Marina chega na escola e é avisada para se apresentar na sala da Diretora.



Cláudio – Marina!

Marina – Oi!

Cláudio – A Diretora quer falar com você urgente.

Marina – Tá bom!



Marina encontra a Carol saindo da sala da Direção.



Marina – O que está havendo, na escola?

Carol – Você ainda não sabe?

Marina – Não, O que houve?

Carol – O Davi esperou o Léo sair da escola, ontem e começou a xingá-lo e quando Léo foi pra cima dele, Davi enfiou uma faca na barriga do Léo.

Marina – Como... Como isso pôde acontecer? Eu dei graças à Deus por termos saído mais cedo ontem, pois o Davi estava querendo se vingar do Léo e eu esperava que ele desistisse... Como eles estão?

Carol – Logo depois de ter esfaqueado o Léo, o Davi, ficou sentado ali assustado, como se não acreditasse no que tinha feito e a polícia o levou para a Delegacia. E o Léo está internado no hospital.

Marina – Ontem, o Davi me mostrou uma faca e disse que o Léo ia se ver com ele, mas eu não acreditei que ele fosse capaz de fazer uma coisa dessas.

Carol – A Diretora quer conversar com você... Eu contei tudo que acontecia aqui, a implicância dos meninos com você e com o Davi e todos nós fomos encaminhados ao Conselho Tutelar.

Marina – Você também? Você não tem andado com eles.

Carol – Marina, eu testemunhei tudo e não procurei ninguém para me ajudar a impedir o que acontecia... Me perdoa, eu sinto muito.

Marina – Eu sei.



Marina vai para a sala da Direção com a cabeça baixa, muito triste. ( Sai )



Carol fala para o Público.



Carol - Eu sei que essas coisas não deveriam acontecer,

mas acontecem a todo instante,

alguns as chamam de Bully,

é quando jovens “mais fortes” maltratam os mais fracos,

pelos mais diversos motivos, levando-os a cometer agressões contra todos,

e às vezes, até contra si mesmo...

Não sei se as frustrações da vida,

a intolerância contra as pessoas diferentes

e a falta de amor ao próximo são as causas desses atos...

...Vai saber...

Os jovens precisam de bons exemplos, compreensão

e carinho dos adultos que lidam com eles,

principalmente de seus pais.

Talvez só assim possamos evitar que este tipo de coisa aconteça

e fazer com que o Mundo seja muito melhor.



FIM



Peça encenada em 2005 pelo Núcleo de Adolescentes e posteriormente transformada em fotonovela.




Um comentário:

kore(H) disse...

Saudades mOr!!

*aprendi muitO com essa peça..*